12 de maio de 2008

Planos de saúde excluem mais velhos

Karla Mendes - Estado de Minas

Quatro anos depois da criação do Estatuto do Idoso, operadoras dificultam o ingresso de pessoas com mais de 59 anos, que enfrentam uma via-sacra para contratar serviçosOperadoras de planos e seguros de saúde estão excluindo e rejeitando os idosos. Quatro anos depois da criação do Estatuto do Idoso, que proibiu o reajuste das mensalidades por mudança de faixa etária para clientes com idade acima de 60 anos, a medida acabou provocando um efeito bumerangue, voltando-se justamente contra aqueles que, em tese, deveriam ser amparados pela legislação. E no quesito que a terceira idade mais precisa de assistência: saúde. Impedidas de aplicar qualquer reajuste além do autorizado anualmente pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), muitas operadoras têm dificultado a entrada de usuários com mais de 59 anos, que não são interessantes para elas. O Estado de Minas acompanhou a aposentada Lúcia Alves Pessoa, de 79 anos, em algumas operadoras e corretoras que vendem planos e seguros de saúde de diversas empresas e constatou a dificuldade. Na primeira corretora, que vende planos de 14 empresas diferentes, a atendente foi categórica: a aposentada só conseguiria fazer um plano da Unimed ou da Admédico. “A maioria das empresas não aceita clientes com mais de 59 anos, nem no plano empresarial. A Golden Cross, por exemplo, só aceita novos contratos para pessoas com até 63 anos”, afirmou. Ao ser questionada por dona Lúcia do porquê, a funcionária não hesitou em responder: “É uma forma de forçar a mudança da cláusula do Estatuto do Idoso, que proibiu o reajuste por faixa etária para pessoas com essa idade”. Dona Lúcia ficou horrorizada. “Quer dizer que o idoso tem que morrer, pois não tem mais plano de saúde para ele”, desabafou. Em outra corretora, que também vende planos diversos, as opções apresentadas para dona Lúcia também foram as mesmas. A atendente até chegou a mencionar a Santa Casa Saúde, mas já descartou a hipótese logo de cara, alertando que, para contratar um plano naquela operadora, a aposentada teria que passar por uma entrevista médica e que poderia demorar até quatro meses. “Eles estão exigindo essa entrevista para pessoas com mais de 59 anos. Tenho uma cliente que fez a entrevista lá há dois meses e até hoje não enviaram nenhuma documentação para ela”, revelou.

O Estado de Minas também acompanhou dona Lúcia à Santa Casa Saúde e confirmou a necessidade de ela fazer uma entrevista com uma junta médica antes de contratar o plano para checar a ocorrência de doenças pré-existentes. Constatadas essas doenças, explicou o funcionário, o usuário tem que pagar algum valor além do fixado pelo plano se quiser ter cobertura para essas doenças antes do término do período de carência. Ao saber a idade da aposentada, o atendente foi logo perguntando se ela tinha algum problema de saúde. “Faço controle de colesterol e tomo remédio para pressão”, respondeu ela. “Aí pode dar algum problema”, deixou escapar. Ao sair dali, Lúcia expressou novamente sua revolta e sentimento de discriminação: “É comércio puro. As empresas só estão preocupadas com o lucro, não estão nem aí para a saúde”. Ela tem plano há muitos anos, mas viu que, se precisasse mudar hoje, ficaria na mão e não teria condições de pagar.

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